Chico Buarque é uma daquelas figuras-prodígio que aparecem poucas vezes na Terra. Completando 69 anos nessa quarta-feira (19), Chico atravessou diversos momentos em sua vida e em sua carreira chegando, em muitos momentos, a criar a confusão das ideias entre o que é arte e o que é mundo real. Prova disso é sua incursão pela música, literatura e teatro, cada uma com competência e qualidade, tanto que não são poucos os prêmios que acumulou, como o Jabuti, pelo livro Leite derramado, de 2009, que, apesar de toda a polêmica, foi mais merecido.
Figura importante no processo de redemocratização do Brasil, Chico chegou a ter de ir embora – em uma espécie de autoexílio – para a Itália, além de criar um heterônimo, assim como Pessoa, um dos de seus poetas preferidos, para fugir da censura que já não avaliava mais suas letras, simplesmente as vetava. Julinho da Adelaide, o “alter ego” malandro criado por Chico, era filho de uma negra com um alemão e chegou dar diversas entrevistas aos jornais brasileiros.
Nessa época, Chico Buarque havia se transformado em um verdadeiro herói da resistência, criando uma aura ainda maior em torno de si, mas ainda assim permaneceu avesso aos holofotes que tanto o persegue. Tímido, ele nunca escondeu que não gosta de aparecer e que não é muito afeito aos shows que seus fãs tanto pedem.
Bastidores
Quando “reapareceu”, em 2011, com Chico e uma turnê que percorreu todo o Brasil, houve a prova de que a admiração por ele não tem idade. Não era difícil encontrar um público heterogêneo em seus múltiplos sentidos: homens, mulheres, crianças, enfim, gente de todas as idades. Os vídeos que eram disparados diariamente com cenas de bastidores da gravação do álbum se transformaram em coqueluche e povoavam as redes sociais.
Quase chegando aos 70 anos, Chico Buarque é tão atual como quando tinha 20. O homem mudo. O artista, também, no entanto, sua importância cresce com o passar dos anos e se transforma em parte da história cultural do Brasil.
Chegando aos 54 anos hoje, o britânico Morrissey já deixou claro que está “vivendo mais que pretendia” e que “alguma coisa deve ter dado certo” para que isso acontecesse. Independentemente dessa visão sobre a própria vida, o ex-frontman do The Smiths abandonou a imagem do jovem trágico – que cunhou nos anos 80 – e aparece em cena como um bon vivant muito bem trajado que joga seus braços por Paris, caminha por Roma e perambula por Los Angeles – cidade que, por sinal, já foi sua casa.
O legado criado por Morrissey, seja com sua ex-banda ou em carreira solo, é inegável. É impossível não ouvir ecos de sua influências em artistas como Suede, Oasis, The Heartbreaks, Belle & Sebastian e até mesmo em David Bowie – que regravou em seu Black tie, White noise a canção “I know it’s gonna happen someday” do clássico Your arsenal, de 1992.
Flertando com o desastre
E é, justamente, desse álbum que brotaram as acusações de racismo contra o cantor, usando, não apenas canções como “Glamorous glue”, “The National front disco” e “We’ll let you know”, mas também uma conturbada apresentação no Madstrock, em que o pano de fundo da apresentação era duas skinheads.
A coroação desse episódio foi a manchete do semanário inglês New Musicial Express (NME) que dizia: “Segurando a bandeira ou flertando com o desastre?”. A resposta do bardo viria somente 12 depois do caso, mas seria uma tampa perfeita para esse caldeirão de acusações. “Irish blood, English heart”, do lendário You are the quarry, de 2004, tem os versos: “Sonho com o tempo quando / ser inglês não será pernicioso / e segurar a bandeira / não fará se sentir envergonhado, racista ou parcial” e não precisa dizer mais nada.
Atualmente, uma das mais pedidas em shows e mais conhecidas de Morrissey, a música marcou o retorno do britânico ao mainstrain, após sete anos sem gravadora – desde o fatídico e desastroso contrato assinado com a Mercury, em 1996, e que resultaria no ano seguinte em Maladjusted, um disco árduo, que deixa exposto o penar de Morrissey e sua batalha judicial contra o ex-Smiths Mike Joyce que reivindicava – e acabou saindo vencedor – maior participação nas vendas do material da banda.
Anos selvagens
Nesse meio tempo, entre o Madjusted e o You are the quarry, Morrissey faria quatro apresentações pelo Brasil, em 2000, algo que só se repetiria 12 anos depois. Foi nessa época em que um dos maiores tesouros da mozmania foi criado: o documentário da BBB The Importance of being Morrissey, mostrando o dia a dia o ídolo, em sua casa, no backstage, no aeroporto, enfim…
Na entrada do século XXI, Morrissey já estava consolidado como um dos maiores artistas de sua geração e, de acordo jornal inglês Guardian, o maior britânico vivo e o segundo maior de todos os tempos – perdendo somente para Shakespeare. Por isso, nada mais justo que o Nada de meias palavras preste essa homenagem ao homem que criou que fizeram chorar, mas também salvaram vidas.
Chega às livrarias dos Estados Unidos nesta terça-feira (14) o quarto livro da trilogia (??) com o professor simbologista Robert Langdon. Inferno, escritor por Dan Brown, o “célebre” autor de O Código Da Vinci, é inspirado pela versão dantesca, literalmente, do mundo dos mortos. Assim seus antecessores, Anjos e demônios, o já citado O Código Da Vinci, e O Símbolo perdido, inferno é um emaranhado de teorias da conspiração presas por uma história tênue e segue algo que mais parece um esquema – como veremos adiante.
Dan Brown, uma espécie de Nora Roberts, porém, muito menos profícuo, ganhou fama em 2003 ao lançar ao mundo a “grande teoria” de que Jesus teria se casado com Maria Madalena e que, aos olhos dos parvos, se transformou em algo revelador sobre a história do cristianismo. Fenômeno de massa até em Bagdá. Aos poucos foi se descobrindo que todo o enredo não passava em um copiar e colar de que diversos outros autores fizeram. Qual o grande feito de Brown, então? Encadear ideias e romanceá-las. O que o diferenciaria, por exemplo, de nomes importantes da ficção contemporânea como Philip Roth e Ian McEwan?
Em suma, a qualidade do texto. Enquanto McEwan transforma operações militares verídicas, como a retratada em O inocente, ou fatos históricos determinantes, como o 11 de Setembro em Sábado, Dan Brown vive em um mundo à parte, algo à lá Paulo Coelho, imerso em suposições esotéricas e religiosas, baseadas por crenças e nada mais.
Esquema tático
Quem já leu a “trilogia” com Langdon deve ter atentado a um esqueminha criado pelo autor. Ao que tudo indica, ou ninguém se deu conta propriamente, ou seus leitores realmente não se importam de ler sempre o mesmo enredo engessado, porém, com alguns acontecimentos diferentes.
Não há diferenças no desenrolar, os três livros seguem a mesma fórmula embora, logicamente, mudam-se os personagens secundários, os acontecimentos e os lugares. O que esperar de Inferno? Apenas mais uma repetição.
Ao redor do mundo, este é considerado o grande lançamento, o livro que irá salvar as vendas de 2013, da mesma forma como aconteceu com Morte Súbita, de J. K. Rowling, no ano passado. Quando se vê livros como estes, incluindo o 50 tons de cinza, chegando ao topo da lista dos mais vendidos uma pergunta não cala: até que ponto vale a pena uma leitura ruim para alguém que não tem o hábito de ler? Ou ainda: até que ponto esse tipo de leitura é válida?
Tony Visconti não mentiu quando disse que Where are we now? era, realmente, muito calma se comparada às outras músicas que compõe The Next day – disco que representa o fim do hiato de uma década – do eterno camaleão David Bowie. Prova cabal desse regresso ao rock em estado puro é o segundo single do britânico, The Stars (are out tonight) – veja tradução aqui -, lançado nesta terça-feira (26).
Não bastasse essa ser uma das melhores músicas do cantor nos últimos 20 anos, o clipe que acompanhou o lançamento é também uma peça à parte. Dirigido por Floria Sigismondi, responsável por Little Wonder (1996) e Dead man walking (1997) – ambas do álbum Earthling (1997) – conta com a participação de Tilda Swinton e da modelo andrógena Andrej Pejic – com direito à atuação primorosa do músico.
Filosofia
Quem conhece a trajetória de Bowie sabe que ele sempre esteve envolvido com a filosofia, como o conceito de super-homem retirado de Nietzsche e que deu origem à canção The Superman, do clássico The Man who sold the world (1970), com The Stars não há fuga à regra.
Os versos “Stars are never sleeping / Dead ones and the living” e “We live closer to the earth / Never to the heavens / The stars are never far away / Stars are out tonight” são a prova dessa espécie de retorno às letras com maior profundidade. Visconti também já havia nos “alertado” que o disco teria um conceito baseado em história antiga e mitos egípcio.
A segunda música de trabalho de The Next day tem um quê da lenda de Ísis e Osíris, ou seja, a busca implacável. Ísis tem seu irmão-marido, Osíris, assassinado por Seth, que corta o corpo da vítima em quatorze pedaços e, aí, começa a tal busca. Esse mesmo mito parece ter servido de base para que Bowie criasse a conceito de Outside (1995) e seu “art murder mistery”
Anthony Burgess completaria 96 anos na próxima segunda-feira (25), por isso, nada mais junto que o Especial Fim de semana homenageie o livro mais importante deste autor: Laranja mecânica. Lançado em 1962, a obra – junto com 1984, de George Orwell, e Admirável mundo novo, de Audus Huxley – faz parte do inconsciente coletivo quando o assunto é distopia, principalmente, pela sua mais famosa adaptação cinematográfica sob a direção de Stanley Kubrick, em 1971. Apesar de Andy Warhol ter feito a primeira investiga fílmica sobre o livro, Vinyl (1965), somente com o realizador de 2001: Uma odisseia no espaço Burgess viu o sucesso de sua obra-prima dentro da sétima arte.
Mesmo sua produção indo mundo além de Laranja mecânica – sendo composta por obras de não ficção, literatura, ensaios sobre linguística, além de sinfonias e peças teatrais – a saga de Alex e seus druguis é considerada sua maior realização, seja pelo feito de – assim como Orwell em seu clássico – conceber uma linguagem complexa e própria repleta de neologismos à qual chamou de nadsat e era composta, em suma, de sufixos e palavras russas e também das gírias de algumas “tribos” da Inglaterra, como os mods e os rockers – considerados os rebeldes de sua época.
Outra artimanha para conbecer a nadsat foi a inspiração na prosa caótica de Joyce em Finnegans wake, o discurso elisabetano de Shakespeare e a Bíblia, na famosa tradução do Rei James.
Recheado de ultraviolência, as páginas se transformam cada vez mais em eventos reais e, por isso, se torna ainda mais atual, mesmo já tendo completado 50 anos de sua primeira edição. Apesar desse caráter agressivo, Burgess deixou sua marca como católico devoto e usou justamente essa figura religiosa de si para rebater as acusações que recebeu. Nascido da necessidade urgente de deixar à esposa um material digno de espólio, graças a um diagnóstico errado e que apontava o autor com um tumor cerebral, o livro só pode ser concebido porque o escritor descobriu a sua “sobrevida”.
Juventude transviada
A história de Alex funciona como uma sátira cáustica da juventude em todos os tempo e é esse o principal fator que faz com que o livro tenha feito – e ainda faz- tanto sucesso e permite uma importante reflexão sobre a condição social do adolescente e do jovem em geral. Ao formar a gangue, o sociopata traz à tona todas as suas angústias e as dá ao mundo.
Prova cabal, seu fanatismo por música clássica, em especial Beethoven, é o reflexo daquilo que foi exposto em Juventude transviada com James Dean: uma menino bem nascido, mas que sucumbi às pressões sociais e se transforma em um pária, ignorado e subjugado. Entretanto, esse caminho é trilhado sozinho, apesar da companhia de seus druguis – “camarada” em nadsat -, pois, em certo momento é abandonado pelos seus e acaba submetido à Técnica Ludovica, uma espécie de lavagem cerebral para promover a reabilitação de delinquentes juvenis.
Muito além das páginas
Na é difícil imaginar que Laranja mecânica faz parte da cultura mundial e inspirou diversos artistas em vários seguimentos. David Bowie revelou que usou vários aspectos do livro para compor seus álbuns apocalípticos – Ziggy Stardust (1972) e Diamond dogs (1974) – e criar os personagens de ambos – o próprio Ziggy e Halloween Jack.
O visual de Alex – também em sua adaptação cinematográfica de Kubrick – foi responsável por servir de inspiração ao estilista Alexandre Herchcovitch compor sua coleção masculina em 2010. A gravadora Korova, responsável por dar ao mundo discos de Echo and the bunnymen e The Sound, tem seu nome inspirado no Korova Mil Bar, point dos druguis. Vale lembrar, por sinal, o trocadilho de Burgess, já que korova significa “vaca” em russo.
Desde as declarações dadas à Folha no último domingo (17), o diretor de O Som ao redor, Kleber Mendonça Filho, que está em Istambul para promover o longa, tem se visto às voltas em uma polemica envolvendo Cadu Rodrigues, diretor-executivo da Globo Filmes.
O imbróglio se deveu à afirmação de que se “filmasse o churrasco do vizinho”, e ele fosse distribuído pela Globo Filmes, atingiria – sem dificuldades – 200 mil espectadores em salas de cinema espalhadas pelo Brasil. Em suma, Mendonça Filho levou ao debate a qualidade discutível de “blockbusters” tupiniquins como De pernas para o ar e Se eu fosse você.
Em replica, Rodrigues o desafiou a levar as mesmas 200 mil pessoas ao cinema com seu Som ao redor – que em pouco mais de oito semanas já arrebatou um público de 80 mil pagantes. Entretanto, comparar um filme de arte – e que, provavelmente, nem tenha a intenso de ser popular – com projetos cinematográficos que lembram as novelas chega a ser ridículo e impossível.
Por isso, a tréplica de Kleber foi tão audaciosa quanto a resposta do executivo ao propor que a Globo Filmes trabalhasse com produções que visassem além do comercial e colocassem valores de arte em evidência no cinema.
Mecenato
Até que ponto o que as distribuidoras e produtoras fazem não é uma espécie de mecenato – um tanto deturpado? Os artistas, ao receberam o pagamento pela obra, a confeccionavam com certos preceitos à mercê de quem os paga.
Não é difícil pensar na questão de um país em que a educação não está em destaque possa existir público qualificado para apreciar filmes de arte ou com conteúdo subjetivo. Isso não é, necessariamente, um desmerecimento de filmes como Tropa de elite, por exemplo, mas é preciso pensar que há outros universos que devem ser explorados – em todas as acepções da palavra.
No último dia 08 um dos maiores astros do cinema completaria 82 anos. Com apenas três filmes em Hollywood, James Dean (1931 – 1955) escreveu seu nome na sétima arte, então nada mais justo que o Especial Fim de semana preste a devida homenagem ao homem que ajudou a cunhar a imagem do rebelde sem causa e que, mesmo sem gostar de rock ‘n’ roll, foi responsável por criar a identidade de toda uma geração e influenciar gente como Jim Morrison e Elvis Presley.
Quando a notícia da morte de Dean ecoou por todo o mundo naquele 30 de setembro de 1955, alguns dias antes da estreia de Juventude transviada (Rebel without a cause, 1955), seus colegas de elenco Natalie Wood e Sal Mineo – que assistiam à uma premier do longa – ficariam chocados ao saber que o Porsche do ator colidiu com outro automóvel e que o amigo foi o único a sair sem vida daquela fatalidade.
Dono de uma personalidade forte, James Dean, que participaria de uma corrida nas Salinas, decidiu ele mesmo dirigir seu carro até o local na prova, tendo ao seu lado o mecânico Rolf Wütherich. Segundo apurações à época do acidente, não bastasse a alta velocidade em que trafegava, Dean – que tinha grande dificuldade para enxergar – não estaria usando seus óculos, indispensáveis para que pudesse assumir a direção.
Talento e tragédia
A morte trágica e a carreira meteórica ajudaram a conceber a imagem que hoje temos de James Dean. Mas isso não é tudo: sua atuação em Vidas amargas (East of éden, 1954) como o atormentado Cal Trask, uma espécie de Caim moderno que tentava conquistar a atenção do pai sendo melhor que o irmão Aaron (Richard Devalos); o problemático e revoltado Jim Stark em Juventude transviada e o peão encrenqueiro Jett Rink em Assim caminha a humanidade (Giant, 1956) buscava a perfeição sem ter que deixar de ser ele mesmo.
Não era à toa que deixava jornalistas embevecidos e surpresos ao dizer que “a maior parte dos atores usam uma máscara para não revelarem a si mesmo. Isso é fácil. É fácil mostrar qual personagem está passando, mas difícil de fazer”. Em seu último trabalho, interpretando Jett Rink, sob a “tutela” do diretor George Stevens, mesmo não sendo necessário, Dean teve aulas de como laçar um touro – isso apenas para dar um ar mais real ao personagem.
Rock Hudson, companheiro de Dean nesse mesmo filme, afirmou que “antes de entrar em cena, ele se preparava como um lutador para luta. Nunca se punha diante da câmera sem antes dar saltos no ar ou sair correndo em alta velocidade”. Com atitudes assim é fácil de explicar o temor despertado em seus ídolos Marlon Brando e Montgomery Clift, não que eles tivessem medo de perder trabalhos, mas o novato criou uma estranha sensação em ambos.
Viver rápido e morrer jovem
Essa ferocidade seria fruto de um trauma sofrido quando tinha somente oito anos. Muito apegado à mãe, James Dean não suportou a morte dela e o fantasma de Mildred Wilson o perseguiria por toda a vida. Ainda na infância, ele teria protagonizado a comovente de cena de cair em prantos no meio de uma aula e gritar “eu quero a minha mãe”.
Já adulto, e com a carreira de ator um tanto consolidada, ele desabafou durante uma entrevista: “minha mãe morreu e deixou tudo nas minhas costas”. De certa forma, essa declaração mostra a tentativa de fuga, libertando-se da imagem de órfão deixando pela mãe – que morreu de câncer – e acabou sendo criado pelos tios – por (possível) negligência do pai.
Apesar dessa relação edipiana, foi Mildred quem inseriu o filho nas artes. Muito jovem aprendeu a tocar violino, que abandonou após a morte da mãe, e, acima de tudo, carregava no nome o fascínio dela pela literatura, dando ao garoto o nome de James Byron Dean, uma homenagem ao poeta inglês Lord Byron. Assim, é fácil entender como a tragédia não havia de persegui-lo, quiçá, ser seu guia.
Em uma de suas frases mais célebres, o astro dizia que queria “viver rápido, morrer jovem e ter um belo cadáver”. Mesmo carregando essas chagas, não era difícil amá-lo, vide os homens e mulheres que povoaram a sua vida, em especial a atriz Pier Angeli, que teria sido seu grande amor, mas teve de interromper seu namoro por conta da desaprovação de sua mamma.
Angeli casaria em 1954 com o ator Vic Damone, despertando a ira do ex-affair que, remoendo as mágoas, faria um verdadeiro estardalhaço em frente à igreja pouco antes da saída dos noivos. Como se vê, a carreira de James Dean foi tão rápida quanto pode, mas foi indispensável parar recriar no cinema a atmosfera realista do teatro.
Anúncio protagonizado por Dean em que ele alertava sobre os perigos de dirigir em alta velocidade.
Vídeo raro de James Dean contracenando com Ronald Reagan
Passados exatos 50 anos da morte de Sylvia Plath (1932 – 1963), completados nesta segunda-feira (11), a identidade da mulher que se matou ao inalar gás de cozinha no fogão de sua casa – e isolou o cômodo para que não atingisse seus filhos que ainda dormiam – permanece uma incógnita. Enquanto alguns biógrafos a definem como desesperada – e colocam a chave desse desequilíbrio muito mais na sua relação com a mãe que com o marido, Ted Hughes (1930 – 1998) -, outros mostram que Plath entrou em colapso simultaneamente ao início do reconhecimento de sua poesia.
De certa forma, as duas hipóteses não estão, de um todo, erradas. A morte chegou a ela menos de um mês após lançar A Redoma de vidro, livro que ajudaria a cunhar a imagem de mulher dramática e à beira de um ataque de nervos. Sua obra-prima, Ariel, só seria lançada dois anos depois de sua morte e seria o primogênito de muitos “filhos póstumos”, dos quais destacam-se as várias edições que seus diários receberam.
Muita gente acredita que estaria, justamente, nesse conjunto confessional – assim como sua poesia – de anotações a chave para compreender a mulher, a artista e, acima de tudo, a suicida Sylvia Plath que, depois de descobrir as traições recorrentes de Hughes, não colocaria um ponto final apenas no casamento. Outro fator que corroborou para a deterioração de Plath está centrado no fato de Ted foi morar com a “outra” – o que teria a enlouquecido e feito com que ficasse alguns meses sem sair de casa.
Censura?
O namoro que havia começado na faculdade e se transformado em um verdadeiro romance hollywoodiano, uma joie de vivre, culminou em uma relação trágica e que ajudaria a pontuar a carreira meteórica de Sylvia Plath que, assim como James Dean (1931 – 1955) e Ian Curtis (1956 – 1980), recebeu uma “pequena ajuda” de seu próprio fim para poder entrar para o mainstream.
Voltando à questão dos diários, quem os lê não encontra nenhuma revelação, nenhuma verdade inesperada sobre ela. Essa falta de fatos se deve, em partes, à possível edição feita por Hughes nos textos que poderiam comprometê-lo. Além disso, todo o espólio ficou legado à cunhada de Plath, Olwyn Hughes – por quem, por sinal, não nutria grande admiração – o que leva a crer que tenha existindo uma espécie de censura sobre diversas situações que poderia macular a honra da família Hughes.
Como desgraça pouca é bobagem, a linhagem dos Hughes parecem ter um quê de Kennedy. Nicholas, o filho mais novo de Ted e Sylvia, nascido em 1962, teve um fim parecido ao da mãe. O biólogo se enforcou em março de 2009 em sua casa. Frieda (1960), primeiro filho do casal, afirmou que o irmão tinha uma forte depressão.
Pouco antes de lançar a reedição de seu Bona drag, em 2010, Morrissey – ex-frontman do The Smiths – disparou em uma entrevista ao Guardian que os chineses, devido seu “tratamento” aos animais, eram uma subespécie e causou o maior frisson e conseguiu atrair os holofotes – alguns deles contra o britânico – para o relançamento de seu clássico de 1990.
Passados pouco mais de dois anos, foi a vez de Johnny Marr, ex-guitarrista do The Smiths e desafeto do peito do vocalista, criar polêmica no Guardian. Às vésperas de lançar The Messenger – primeiro disco de Marr a fazer frente ao que produziu pela banda – o músico afirmou que ele e seus três companheiros de Manchester são os pais do indie como ele é hoje.
Angústia criativa
Marr não está inteiramente equivocado. Apesar de a imprensa britânica considerar o New Order o grupo mais influente dos anos 80, sem dúvidas o The Smiths foi o grupo que mais deixou rastros ao redor do mundo.
O Brasil teve sua febre com o quarteto em 1986, cerca de um ano antes do fim calamitoso da banda. Quando The Queen is dead chegou por aqui ajudou a formatar um som diferente, que misturava Beatles, Bowie e New York Dolls, e permitia letras pungentes – cheias de poesia, angústia e beleza.
Não demoraria para fazer escola por aqui. Renato Russo e sua Legião Urbana era o reflexo mais contundente dos britânicos – muito embora, Morrissey esteja muito mais para Rimbaud e Russo para Camões.
De Manchester também sairia o Oasis que, apesar de inicialmente negar a tudo e a todos, sempre deixou claro sua influencia pelos conterrâneos. Radiohead e Coldplay também não se cansariam de pagar tributos ao quarteto.
Paternidade
A despeito de toda inegável influência do rapazes da terra da Rainha, não tem como negar que a paternidade do indie não seja dividida com os americanos do R.E.M.
Morrissey e Stipe são amigos há muito tempo – nem é preciso lembrar dos rumores de um romance entre eles e de que a letra de Found found found era dirigida ao vocalista do R.E.M..
Entretanto é engraçado pensar que, enquanto Stipe pensava em projetar sua banda aos quatro cantos do mundo, Morrissey tentava criar um concha sobre seu trabalho e se proteger, em suma, da indústria fonográfica – isso explica do fato de não ter assinado com a Factory, gravadora do Joy Division, e sim com a quase anônima Rugh Trade.
Se o The Smiths tivesse sido o que Marr pretendia – um novo U2 – talvez pudesse assumir essa “culpa” sozinho. Mas não é bem assim.
Confiras quatro das músicas que farão parte do The Messenger.
O culto que envolve os clariceanos é muito mais antigo que o boom da internet e começou quando a escritora ainda estava viva. Desprezada por jornais e editoras, Clarice viveu às margens com as formalidades da vida moderna e conseguiu arrebatar uma legião de fãs – pois, muita mais que leitores, Clarice possui fãs – que ajudou a disseminar obras como A Paixão segundo G.H. – muito mais discutido que lido -, A Hora da estrela e Felicidade clandestina – “best-seller” clariceano e introdutor de sua literatura, graças à inclusão do título em muitas listas de vestibular.
O grande trunfo da maioria dos escritos da ucraniana – que veio ao Brasil muito jovem e adotou esse país como sua casa – é a possibilidade de diversas leituras. Quem coloca em mãos A Paixão segundo G.H., por exemplo, pode (não) compreender de maneiras variadas, desde uma interpretação superficial/superfácil da mulher e sua relação com barata no quarto da emprega ou criar um viés psicológico e tudo mais.
Uma mulher em crise
Inspirada por Joyce e Woolf, Clarice adotou o fluxo de consciência dos europeus e o aperfeiçoou, concebendo um modo muito próprio de interagir com o leitor e consigo mesma. Tanto o conto quanto o livro Onde estivestes de noite? Coloca todo o processo de interpretação em xeque. Extremamente metafísico e místico, o conto, deixa o leitor comum – aquele que toma em mãos um livro de Clarice porque “ouviu” falar dele nas redes sociais – se desespera com a narrativa frenética de uma mulher em crise.
Essa é a melhor definição de Clarice – uma mulher em crise? Sim, é. Ela estava aqui – neste mundo – para contestar e mostrar a linha tênue entre a realidade e o imaginário. Em um tempo que nem se falava nas ruas em realidade virtual, Clarice já colocava em pauta a criação do sentido entre o que se vive e o que se imagina viver – o ethos.
Clarice internacional
Chamá-la de “escritora brasileira” chega a transformá-la em banal. Da mesma forma como tratar de Victor Hugo, Machado, Tolstói e Borges apenas suas nacionalidade, afinal, são universas e Clarice também o é. Prova disso está no grande número de traduções que ela tem recebido all over the world.
Com um tratamento de peso, as obras são publicadas com o máximo de cuidado gráfico e esmero, tanto assim é que o mosaico criado pelo designer gráfico Paul Sahre para as edições americanas lançadas pela New Directions.
Para Franzen Clarice é uma escritora notável – mas seus laços com os brasileiros não é de hoje e isso soa um tanto blasé. Pamuk não deixa por menos e afirma que ela é uma das escritoras mais misteriosas do século XX. O que Clarice realmente representa? Nada de mais.
Nada.
Nada diferente de um fluxo interminável, que jorra das entranhas o que o ser humano realmente é, sem pudores e sem maiores poderes. Clarice fala o que é simples, mas está escondido entre os formalismos do cotidiano. Clarice é bruxa; Clarice é heroína, mãe e mulher. Clarice é água. Água viva.