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As crianças brincavam ao redor da Mesquita no exato momento em que o casal de anões entrava no tempo. Menores que os meninos e meninas que se divertiam com bolas cordas e peões, não demorou para que fosse notados em sua ninharia.

Enquanto os meninos riam e debochavam, as meninas se compadeciam daqueles corpinhos – mas não se aproximavam, mantinham um distancia segura. Poucos eram os muçulmanos naquele bairro, entretanto, isso não impedia que o templo fosse angelical, repleto de ouro e outras opulências que aquela gente na rua nem sabia que existiam.

Os anãos entraram e logo foram cumprimentados por gentes que estavam à porta. Pareciam de uma intimidade indelével, chamavam-se pelos nomes e se reverenciavam com o costume. As crianças assistiam atônitos a cena, pois jamais alguma delas havia visto aquele casal por ali e se espantaram com tal fato.

Vieram do circo, disse um dos garotos, sem dúvida o mais atrevido do grupinho. Mas ele, em sua sabedoria, esqueceu que há dois anos não havia circo por ali. Os outros riram como que por obrigação, não porque fosse natural que aqueles dois seres também tivessem sido construídos em carne e osso; não porque os anões tinham coração, pulmão e rins assim como todos ali. Não, não era nada disso.

Depois de um certo tempo, nem mesmo as meninas seriam complacentes com os dois mínimos. Elas ridicularizavam as roupas da anã, que não se vestia como as demais, mas era aceita como tal.

Todos ali eram muito jovens para perceber que – de alguma forma – cada um era também um anão à sua própria forma.